Nos últimos tempos muito tem se falado sobre “qualidade de vida”, e esse termo acabou ficando banalizado. Tudo que fazemos, é para ter qualidade de vida. O que comemos, da forma como trabalhamos, onde descansamos, o esporte que praticamos, tudo tem sempre este objetivo de “qualidade de vida”.
Trabalhei na Universidade de São Paulo em um programa de Qualidade de Vida, visando bem-estar dos funcionários e alunos. Em outro momento trabalhei em uma empresa corporativa com este tema, e em um dos anos ganhamos um prêmio da ABQV, Associação Brasileira de Qualidade de Vida por projetos desenvolvidos para melhoria na saúde e bem-estar no ambiente de trabalho. Quero dizer que durante várias fases da minha vida trabalhei com este tema de qualidade de vida, e não sei se hoje é possível definir o que seja Qualidade de Vida. Para mim, este termo não faz mais sentido. Será que qualidade de vida é dormir bem, trabalhar apenas as horas necessárias, praticar esportes, comer adequadamente? A maioria de nós não faz nada disto. Acorda cedo para ir trabalhar, mal se alimenta ou se alimenta mal, trabalha horas sem fim, sofre durante os percursos de deslocamento, seja por conta do desgaste do transporte ou trânsito, têm problemas saúde ou com algum familiar, e ainda assim existe a busca para viver feliz.
As upanishads, que são escrituras indianas antigas, costumam fazer jogo de palavras. E existe um texto que faz referência a Deus que diz o seguinte:
“Quem pensa que O conhece, não O conhece; não é conhecido por aqueles que O conhecem, é conhecido por aqueles que não O conhecem”. Eles fazem um jogo de palavras. Por isto acho que se este termo pertencesse a cultura indiana de antigamente, eles não diriam Qualidade de Vida, mas Vida com Qualidade.
Quem dá qualidade a nossas vida? Nós mesmos!
Há uma relação da yoga do tapetinho – esta uma hora que praticamos, e o nosso dia a dia. Falamos da yoga das 23 horas, e não da 1 hora que praticamos yoga juntos. Esta yoga do tapetinho deverá ser repetida como atitude durante o resto do dia. Ou seja, quando penso em dar qualidade à minha vida, sou eu mesmo que faço da minha vida uma vida interessante. Quem vai fazer você se convencer de que aquilo que você faz é importante é você mesmo. É você quem vai dar importância para isto, é você quem vai dar qualidade para isto. E quem vai dar qualidade à sua prática? é você mesmo. Não é o condutor da prática. O professor aponta uma tradição. E o que tem nesta tradição? Praticamos, gostamos, somos buscadores. O professor é tão buscador quanto o aluno. E seu papel é indicar o caminho, mas quem dá qualidade à prática é aquele que faz, enquanto percebe o que faz. Quem faz da sua prática um sofrimento, é você. Quem faz da sua prática uma prática agradável e prazerosa é você. Quem faz da sua vida uma vida com qualidade, é você. Então essa qualidade está mais perto do que você imagina.
Boas práticas
Marcos Rojo