Quando meus filhos eram pequenos, como é comum no caso dos pais, eu contava estórias para eles dormirem. Tentando ser criativo, pensava durante o dia no que iria contar para a minha turminha à noite. Logo que o repertório acabou, comecei a inventar, mas, minha criatividade não me permitiu ir muito longe, foi então que comecei a transformar as estórias que eles já conheciam. Por exemplo: ao invés do “lobo mau e os três porquinhos” eu contava a do “porco mau e os três lobinhos”. Era um vexame; assim que terminava, logo um deles pedia para contar uma das tradicionais.
Para a minha alegria, recentemente me explicava uma professora de narrativas, que gostamos de ouvir as mesmas estórias porque gostamos de reviver as sensações, assim como ouvimos uma mesma música mais de uma vez. Isto aliviou a minha sensação de fracasso e voltei com esta mania de contar estórias. Sempre que vou escrever algo, logo procuro um conto que tenha uma relação com o tema, acho que vocês já perceberam.
Enquanto buscava um tema para esta coluna, me lembrei de uma estória que diz que nós não precisamos de conselhos, que todas as respostas estão dentro da gente. Foi como um “balde de água fria”, daí para frente, tudo o que eu pensava me pareceria desnecessário. Na falta do tema só sobrou a estória.
Anjos, demônios e humanos estavam descontentes e foram até a presença do Criador pedir ajuda.
Primeiro foram os anjos. Ao se reunirem com Deus lhe contaram que passeavam de nuvem em nuvem, tocavam flauta o dia todo, tudo estava certo, mas vivam em constante tédio. Queriam saber o que era necessário fazer para reverter esta sensação. Deus respondeu “C”, a letra “C”, e saiu. Os anjos se entreolharam e ficaram pensando no significado daquilo. Depois de muito pensar e discutir chegaram a conclusão que a letra “C” queria dizer ‘’contentamento”. Quando Deus voltou, agradeceram profundamente pelo conselho, entendendo que o contentamento é uma prática que compete a cada um.
Logo em seguida chegaram os demônios dizendo que mesmo fazendo todas as maldades do mundo, não estavam felizes. Queriam saber o que estava faltando e Deus lhes respondeu da mesma forma com a letra “C” e saiu. Sem entender nada, os demônios começaram a discutir e chegaram a uma conclusão. Quando Deus voltou, agradeceram muito o grande conselho, haviam entendido que para serem felizes, teriam que treinar a “compaixão”.
Por último, vieram os humanos, dizendo que tinham de tudo, acumulavam coisas, compravam casas cada vez maiores para poder guardar mais e mais objetos, os armários estavam lotados, mas ainda assim, não estavam felizes. E Deus apenas pronunciou a letra “C” e saiu. Completamente pasmos, os humanos começaram uma grande discussão à respeito do sentido da letra “C”. Quando Deus voltou, estavam emocionados com o grande conselho, haviam entendido a mensagem. Para sermos felizes, precisamos “compartilhar”.
Em resumo, boas perguntas são mais úteis do que boas respostas, ou seja, quando você souber o que você quer as respostas aparecerão. Como dizem os indianos, “quando você estiver preparado o ‘guru’ aparacerá”.
Marcos Rojo