Há mais ou menos 500 anos atrás, na calma de um pequeno monastério, um discípulo pergunta a seu mestre porque deve praticar pranayama.
E o mestre responde: -“Os yogis praticam pranayama para controlar as fraquezas da mente. O controle do prana leva ao controle da mente, produz equanimidade e gera felicidade. Quando a respiração é instável, tudo é instável, mas quando a respiração se estabiliza, o yogi permanece imóvel e chega ao êxtase. Assim, o pranayama transforma-se em um verdadeiro fogo para queimar o combustível constituído pelos pecados, é considerado uma ponte para atravessar o oceano dos defeitos e perturbações. Através destas práticas, um homem pode se parecer com Deus. ”
Provavelmente motivado pelos efeitos descritos pelo mestre, o discípulo pergunta quando pode começar.
Com toda paciência e sabedoria de quem já trilhou o caminho, o mestre responde: -“Não se deve começar a praticar o pranayama no inverno, nem no verão e nem nas estações chuvosas. Você somente terá sucesso se começar a praticar na primavera ou outono”.
Resolvida a questão do momento correto, o discípulo pergunta qual o local adequado para começar a praticar.
O mestre responde: -“Deve-se praticar num país próspero, onde haja um governante justo e que haja alimentação abundante para todos. Construa uma cabana em lugar seguro, não muito isolado, que não seja distante do seu local de nascimento e nem num lugar muito povoado. Sua cabana deverá ser livre de insetos e construída num lugar não muito alto, nem muito baixo”.
O discípulo pede ao mestre que explique melhor a questão da escolha do lugar. O mestre comenta que num lugar onde se é um estranho, ou num lugar muito isolado, tem-se menos segurança e proteção e que num lugar muito povoado, o yogi pode distrair-se facilmente.
Resolvido o porque, onde e quando, o discípulo pergunta como deve praticar.
E o mestre responde: – “O pranayama deverá ser praticado 4 vezes ao dia: quando o sol nasce; quando o sol se põe; ao meio dia e á meia noite. A cada vez você deverá repetir 80 vezes o pranayama escolhido. Num ritmo onde o ar deverá levar pelo menos 12 segundos para entrar, pelo menos 48 segundos de pausa com o ar nos pulmões e pelo menos 24 segundos para soltar o ar”.
Percebendo que não é tão fácil como ele esperava, o discípulo pergunta se tem mais alguma recomendação.
O mestre, na sua calma peculiar, como quem demonstra segurança e disciplina, responde: -“Devem ser evitadas as más companhias, aquecer-se próximo ao fogo, prazeres com mulheres, viagens longas, banhar-se muito cedo, comer excessivamente pela manhã, jejum e atividade física muito forte. Somente após tudo isso e sentado num assento de pele de tigre, com o olhar para o leste ou norte e tendo purificado os nadis, você estará pronto para praticar o pranayama”.
Nestas alturas, como qualquer um de nós, eu imagino que o discípulo já estava pronto para desistir, mas ele não desanimou. Ele seguiu os conselhos do mestre e provavelmente teve bons resultados, pois relata em seguida alguns dos efeitos obtidos: “A prática do pranayama outorga a habilidade de mover-se no ar. Com sua prática correta todas as enfermidades são destruídas e a mente experimenta a felicidade suprema”.
Este pequeno diálogo, é uma montagem de frases (as que estão em itálico) retiradas de importantes textos do Hatha Yoga, mas, com algumas modificações, para tornar a leitura mais fluida. Espero não ter cometido nenhuma heresia ao misturar estas frases para dar mais realidade à situação do mestre e discípulo. Vale lembrar que estes textos são apresentados em forma de diálogo e que geralmente foram escritos pelos discípulos.
A minha intenção ao escrever este pequeno diálogo é mostrar que nos dedicamos muito pouco às práticas, mas esperamos muitos resultados. Estão iludidos aqueles que acham que vivendo com todos os apegos, violências e fantasias do ego, ao chegar em casa, fechando a porta do quarto, acendendo o incenso, praticando meia dúzia de asanas e 2 minutos de pranayamas, vão se iluminar. O como vivemos o nosso dia a dia é determinante no caminho do yoga. Praticar yoga é manter-se atento as 24 horas do dia.
Por outro lado, não acho que para começarmos a praticar yoga, devemos mudar tudo, de uma hora para outra. Podemos começar a praticar vivendo como vivemos, mas sem esperar a “iluminação” para o mês que vem. Acredito que as modificações no estilo de vida virão aos poucos e por vontade nossa. Acredito que vamos mudando nossos interesses e prioridades sem grandes traumas. Se conseguirmos praticar as técnicas de yoga todos os dias, ainda que seja apenas meia hora por dia, já é um grande passo.
Referências bibliográficas
Marcos Rojo