Sempre que pensamos em pranayama, pensamos em controle de algum tipo de energia sutil com propósitos extra-normais. Este conceito aparece em textos de Hatha Yoga para uma comunidade extremamente dedicada à vida espiritual, com uma disciplina exemplar e livre de vaidades.
Os antigos yogues sabiam muito de si e da natureza. Sabiam muito do universo e suas manifestações. Tinham profundo respeito pela vida e eram livres de preconceitos e desejos. Buscavam sinceramente o que acreditavam.
Penso que nosso desenvolvimento acontecerá quando estivermos prontos. A frase “quando você estiver preparado o guru aparecerá”, não é uma referência a uma pessoa, que deverá cair do céu, ou àquele mestre que ao te encontrar te dirá que o esperava a tanto tempo e que enfim você chegou. É a nossa busca por respostas que temos necessidade de encontrar. Passamos a buscar outras prioridades, a freqüentar outros grupos e com isso vamos aos poucos achando as respostas.
Em geral, nos encantamos muito mais com as definições de pranayama dos textos de Hatha Yoga e acabamos nos esquecendo da simplicidade com que Patanjali o define. Na sua linguagem precisa, Patanjali diz que pranayama é a cessação do impulso respiratório. Ou seja, a suspensão da vontade de respirar. As técnicas desenvolvidas deverão levar o praticante a esta espontânea “não vontade de respirar”. Veja que “não vontade de respirar” é diferente de “vontade de não respirar”, assim como “não vontade de pensar”, é diferente de “vontade de não pensar”. Podemos ter vontade e não conseguir, mas podemos desenvolver técnicas que nos levam espontaneamente a algumas sensações.
As técnicas respiratórias devem ser entendidas como preparatórias para a meditação. O Hatha Yoga diz que a atividade da mente (citta) e a atividade respiratória (prana) andam juntas e como não conseguimos interferir diretamente na atividade da mente, interferimos na atividade respiratória, mostrando que não há contradição entre os textos de Patanjali e o Hatha Yoga.
Um exercício respiratório mal feito, não só não ajuda, como atrapalha, ou seja, tem efeito ao contrário, ao invés de aquietar, excita. Grave bem isso: com relação á respiração “nada acalma mais a mente do que soltar o ar devagar; nada ajuda mais a se concentrar mais do que ficar sem respirar, mas, nada excita mais do que sentir falta de ar”. Em resumo: fique o maior tempo possível sem respirar, mas, sem sentir falta de ar. Uma forma de diminuir a respiração com segurança, é soltar o ar pelo dobro do tempo que ele leva para entrar. Respiramos perto de 17 vezes por minuto, se você inspirar em 4 segundos e soltar o ar em 8, acabará respirando 5 vezes por minuto. É uma forma segura de se preparar para as fazes posteriores.
Nosso mecanismo respiratório é muito delicado e preciso, deve ser tratado com muito carinho. Os antigos yogues já haviam percebido que a respiração pode ser automática e também voluntária, mas que o voluntário é limitado. Só podemos interferir na nossa respiração até o ponto em que o automático permitir. Ao primeiro sinal de cansaço, ou de falta de ar, o praticante deve interromper seu exercício e recomeçá-lo de forma mais suave.
Na beira do Ganges o mestre pergunta a seu discípulo: -“O que é mais importante na nossa vida? ” Querendo agradar o mestre, o discípulo responde: -“A vossa presença, mestre. ” Não satisfeito com a resposta, o mestre mergulha a cabeça do discípulo na água e assim permanece por alguns longos segundos. Quando retira a cabeça do discípulo da água, volta a fazer a mesma pergunta, que por sua vez, ofegante e sem fôlego responde: -“respirar mestre, o mais importante na nossa vida é respirar”.
Referências bibliográficas
Marcos Rojo