Quando alguém nos ensina alguma coisa, podemos dizer que entendemos caso a explicação nos faça sentido, mas, isto não significa que a aprendemos. Alguém só é possuidor de algo, quando o apreende e no processo de ensino-aprendizagem, isto significa incorporar, passar por uma experiência. Aprender corresponde a vivenciar e isto é isento de palavras e conceitos, é apenas sensação.
Se você já experimentou o sabor azedo de alguma fruta, poderá imaginar o sabor de outra, quando alguém lhe diz que tal fruta também é azeda. Desta forma, a experiência não só nos possibilita aprender algo, mas também pode ampliar um repertório de possibilidades para outras conclusões.
Crianças tem esta característica, buscam seu conhecimento pela experiência, querem mexer em tudo, cheirar, morder, lamber, etc. Não adianta dizer para elas não mexerem no fio porque “dá choque”, elas tem que experimentar. Elas são mais honestas com seus saberes, facilmente dizem “não sei” quando não aprenderam. Nós adultos, parece que temos vergonha de assumir que não sabemos, dizemos que aprendemos quando apenas entendemos.
Um professor de ética passou a aula toda explicando aos alunos o verdadeiro conceito de ahimsa (não violência). Na semana seguinte, o professor perguntou aos alunos quem tinha aprendido o assunto da aula anterior. Todos levantaram a mão menos um menino, que disse que não tinha conseguido vivenciar ahimsa. Imediatamente o professor concluiu que ele foi o único que havia realmente entendido alguma coisa da aula.
Em yoga entendemos muito, mas não sabemos o quanto já aprendemos? Como não existem placas de sinalização no caminho da meditação, não sabemos em que ponto estamos. Com relação a conceitos, poderemos estar muito adiantados, mas se for com relação a experiências talvez estejamos no começo. De qualquer forma, esta resposta só interessa a você mesmo. Como se diz na Índia: – “um caminho de 1000 léguas, começa com o primeiro passo”. Costuma-se dizer também, que o ‘yogue” é um cientista, que seu corpo é seu laboratório, mas os resultados de suas experiências só interessam a ele.
Algumas definições de meditação me dão a entender que são baseadas em análises enquanto outras me parecem retratar experiências.
Por exemplo:
– “Meditação é o voltar para casa”. Esta definição nos remete à sensação que temos quando voltamos para casa depois de um dia difícil, numa noite fria. Para o autor desta definição, a sensação de aconchego, segurança e acolhimento, são comparáveis às sensações obtidas na prática de meditação.
– “Meditação é estar aonde a mente está”. Em outras palavras, é estar por inteiro, estar disponível, não deslocar a mente para o passado ou para as fantasias do futuro, é prestar atenção naquilo que se está fazendo. Ou seja, faça o que tem que ser feito com todo seu empenho, envolvendo-se por inteiro, ainda que a tarefa seja simples. Isto também é uma forma de meditação.
– “Meditação é um relaxamento de pensamentos e sentimentos”. É como se estivéssemos num lugar onde não precisássemos disfarçar sentimentos. Estamos tão à vontade e tão seguros que não precisamos fingir, podemos ser autênticos, especialmente com a gente mesmo.
– “Meditação é um silêncio momentâneo que ás vezes aparece”. Esta é para mim uma das definições mais honestas. Ficamos muito tempo sentados, para sentir, de vez em quando, algo por pouco tempo, mas que já é o suficiente para nos motivar a continuar com a prática. O texto de Patanjali, não fala de quantidade de meditação, mas da qualidade. Podemos ter experiências muito curtas e muito marcantes. Podemos ver uma imagem ou uma cena rápida que nos impressiona para o resto da vida.
Mas tenha cuidado, estas definições são a tentativa do praticante em retratar a sensação obtida durante a prática de meditação e não devem ser usadas como técnicas. Quem as sentiu, as sentiu espontaneamente e simplesmente fez uma comparação. Ter a expectativa de sentir algo específico, perturba a prática de “aquietação” da mente, pois o desejo é um atrapalhador deste processo.
Estas definições nos ajudam a entender o que será que devemos sentir quando meditamos, mas só aprenderemos com as nossas sensações individuais.
Curiosamente, todos os dias passamos pelo estado de mente sem pensamentos (samadhi), só que dormindo. Neste momento de sono profundo a mente está quieta, mas, nós não estamos conscientes, então não experimentamos. Se não houve experiência, não houve mudança de comportamento e acordamos iguais, descansados, mas, iguais. Por outro lado, se pudermos sentir o prazer de um estado onde não sentimos falta de nada, não temos medo de nada, não precisamos provar nada para ninguém e onde tudo está correto, ainda que seja por alguns segundos, acredito que seremos outros depois desta experiência.
Boa prática.
Marcos Rojo