Marcos Rojo
Literalmente, sutra significa ‘fio’. Pode ser o fio de uma guirlanda, de um colar ou os fios de um tecido. Simbolicamente, sutra significa uma pequena frase com um vasto sentido, um aforismo, ou uma fórmula. Uma fórmula, contém muito significado com poucas letras, ou seja, a maior quantidade de informações possível no menor número de palavras.
Na Índia antiga, era uma forma comum de se elaborar um conteúdo, visto que não eram escritos e sim memorizados, esta era a primeira obrigação do discípulo, ainda que não fizesse nenhum sentido para ele. Os indianos mantém até hoje esta incrível capacidade. Ao que parece, todos eles sabem “de cor” (literalmente de coração) os principais textos de sua cultura.
Seja pelo fato da ordem precisa de vários fios, formar um tecido ou pela colocação adequada das flores num fio formar uma guirlanda, o certo é que a idéia da ordem nos sutras é fundamental. Patanjali deixa isso bem claro.
Os sutras de Patanjali estão interligados, as frases se complementam, mostrando a seqüência das idéias. Logo no início ele define o yoga como um estado especial da mente humana (Yoga Citta Vritti Nirodaha), para em seguida deixar bem claro o porque deste estado, ou seja, fazemos yoga para voltarmos para a nossa verdadeira natureza. Mostrando que normalmente vivemos em estado perturbado.
Antes de falar sobre o pranayama, Patanajali diz que devemos nos encontrar numa condição estável e confortável, com relaxamento do esforço e sem perturbação dos opostos, deixando bem claro que os asanas precedem os pranayamas, ou melhor, que os asanas preparam o praticante para os pranayamas.
Patanjali cita 5 atitudes que devemos observar (Yamas) que em conjunto mostram que o mundo não deve ser um problema para o praticante de yoga e o prtaticante de yoga também não deve ser um problema para o mundo. Quando começamos a dizer: – “porque tudo acontece comigo”, alguma coisa está errada conosco. Em seguida cita mais 5 atitudes (Nyamas) que querem dizer que nós não devemos ser um problema para nós mesmos.
Em resumo, faça tudo o que deve ser feito, mas, não deixe de aproveitar a vida (no bom sentido). Há uma estória que se conta no meio “yóguico” que valoriza esta forma feliz de se estar no mundo:
– Era uma vez um jovem que vai até o palácio de um Marajá (na época em que os Marajás eram os sábios) e pergunta a ele qual é a fórmula para se viver corretamente. O Marajá, ao invés de responder, propõe um desafio para o jovem: “Vou encher uma colher com azeite e você vai percorrer todos os cantos deste palácio, mas não deixe derramar uma gota de azeite sequer.” Após ter concordado, o jovem sai com a colher na mão, andando com passos pequenos, olhando fixamente para a colher e segurando com tanta força que ficou cansado. Ao voltar, orgulhoso por ter conseguido, mostra a colher para o Marajá que pergunta se ele viu os belíssimos quadros que estão nas paredes do palácio, se ele viu os jardins e as piscinas maravilhosas que estavam pelo caminho. Sem entender muito o porquê disso tudo, o jovem respondeu que não, e o Marajá disse: “Dessa forma, você nunca encontrará sabedoria. Vivendo só para cumprir suas obrigações, sem usufruir as maravilhas do mundo, você nunca será um sábio”. Em seguida, pediu para o jovem repetir a tarefa, mas que desta vez observasse tudo pelo caminho. E lá vai o rapaz com a colher na mão, olhando e se encantando com tudo. Se esquece da colher e passa a observar os quadros, os jardins, os pássaros, etc. Ao voltar, o Marajá pergunta se ele viu tudo e o jovem extasiado diz que sim. O Marajá pede que ele mostre a colher e o jovem percebe que tinha derramado todo o conteúdo pelo caminho. E o Marajá diz: “você terá que descobrir uma forma de cumprir suas obrigações, mas sem achar que o mundo é um fardo a ser carregado”.