A minha intenção ao escrever estes artigos, é a de deixar uma mensagem que possa ajudar o leitor nesta “caminhada” para nos tornarmos seres melhores. Caminhada esta, que eu chamo de Yoga.
Em todos os momentos que me sentei para este artigo, só consegui me motivar para escrever algo sobre a Índia. Talvez eu esteja com saudades deste lugar maravilhoso que já foi tão distante, mas que hoje, com a globalização, está cada vez mais perto.
Eu acredito que na Índia nós aprendemos muito mais nas situações do dia a dia, do que nas buscas incessantes por um Guru.
Eu aprendi muito fazendo compras na Índia. Não sei de onde vem a palavra pechincha, mas tenho certeza que o hábito, vem de lá. Nunca vi um povo que gosta de pechinchar como o indiano. Se você estiver por lá e for fazer compras, não se esqueça de participar da “brincadeira”. Caso você compre sem pechinchar, deixará o vendedor chateado. Ele terá certeza que poderia ter cobrado mais caro.
Eles são tão hábeis nesta arte que uma vez me vi pechinchando ao contrário. É isto mesmo, pedia ao vendedor para aumentar o preço. Eu estava em Nova Delhi e vi uma pequena mesa dobrável que desejei comprar. Perguntei o preço e o vendedor me disse que custava 1.200 rúpias (dinheiro local). Eu retruquei, dizendo que iria a Rishkesh e que lá, poderia comprar uma igual por 800 rúpias. Então, o vendedor me disse para comprar lá, mas, caso não o fizesse, que ao voltar, ele me venderia aquela que ele tinha por 500 rúpias. Eu disse que por 500 rúpias levaria naquele momento, mas ele disse que só me venderia quando eu voltasse de Rishkesh. Então eu disse que estaria disposto a pagar 600 rúpias. Mas ele insistiu que só me venderia na volta. Subi o preço para 700 rúpias, mas sem sucesso. Parei para pensar, afinal compras é uma questão de impulso e percebi que tudo aquilo é um grande jogo. Não comprei a mesa nem em Delhi e nem em Rishkesh, mas também não entendi qual era a estratégia do vendedor.
Numa outra ocasião, cansado de ser “enganado”, perguntei antecipadamente a um motorista de táxi, quanto iria custar a corrida do aeroporto até o hotel. Ele me disse 400 rúpias. Em frente do motorista, eu conferi o preço com o guarda do aeroporto que afirmava ser um valor justo. Contratei o serviço, afinal eu tinha até uma testemunha do valor cobrado e seguimos para o hotel. Estávamos em três no táxi, eu e mais dois amigos, também estrangeiros. Quando chegamos no hotel, retirei o dinheiro para pagar o táxi e para meu espanto, o motorista me disse que eu deveria lhe pagar 1.200 rúpias. Achando que era uma piada, em perguntei a ele se ele tinha se esquecido do valor antecipadamente combinado. Ele disse que estava seguindo rigorosamente o nosso acordo, afinal estávamos em três e ele havia cobrado 400 rúpias por passageiro. Brigamos até chegarmos ao meio termo, mas tenho certeza que fui enganado outra vez.
No dia seguinte, antes de pegar um táxi, perguntei na portaria do hotel, quanto deveria pagar por uma corrida até a escola que eu desejava visitar. O recepcionista do hotel insistiu que eu não pagasse mais do que 30 rúpias, afinal era perto. Quando abordei o táxi que estava em frente e perguntei quanto custaria para me levar até meu destino, ele me respondeu 50 rúpias. Eu fiz um enorme sermão dizendo que não era correto cobrar dos indianos um preço e dos estrangeiros outro e que eu sabia que para os indianos a corrida não custaria mais do que 30 rúpias. O motorista pediu desculpas e me levou por 30 rúpias. Durante o trajeto, percebi que aquele homem era muito simples e que possivelmente não tinha casa, pois dormia no táxi. Fiz as contas e percebi que com toda a minha empáfia, tinha conseguido economizar 20 rúpias, ou seja, 1 real. A distância era muito maior do que eu pensava e com o trânsito caótico de Mumbai, demoramos quase uma hora para chegar ao destino. Com pena do motorista, eu lhe dei as 50 rúpias que ele tinha me cobrado originalmente. Para meu espanto, ele não aceitou e me devolveu o troco. Eu insisti, quis pagar 50, mas ele disse que se tínhamos combinado 30 que eu teria que pagar 30. Quis deixar o troco como doação, mas não teve jeito, ele me dizia que não seria correto mudar o preço. Foi o 1 real mais caro da minha vida. Morri de remorso. Achei que fui movido pela situação com o motorista de táxi do dia anterior.
O segundo motorista me deu uma lição. Devo agradecê-lo, mas, pensando bem, devo agradecer também ao primeiro, pois se ele não tivesse me enganado, possivelmente teria agido diferente com o segundo e teria perdido a oportunidade de passar pela experiência que passei.
Marcos Rojo