Marcos Rojo
O verdadeiro sentido de Sadhana, não é apenas o de percorrer o caminho, mas o de abrir o caminho. Um não pode trilhar o caminho do outro, você terá que abrir e percorrer o seu próprio caminho. O mestre pode mostrar a direção, mas é você quem vai abrir o seu caminho.
Se você está no meio de uma mata bem fechada e quer seguir para uma determinada direção, terá que abrir a trilha com suas mãos ou com algum facão. No começo não será fácil, teremos dúvidas se estamos na direção correta, por isso precisamos de uma orientação. Talvez demore muito para chegar a seu destino final. Você pode abrir uma trilha até um determinado ponto e depois voltar para o ponto de origem para dormir. No dia seguinte, será mais fácil seguir pela trilha que você já abriu e daí terá que desbravar um pouco mais. Cada vez que você volta pela mesma trilha, fica mais fácil, mas o trecho novo será sempre um desafio.
Da mesma forma, cada um deve seguir seu caminho no yoga (sadhana). Um não pode praticar pelo outro. No começo é mais difícil, com a repetição fica mais fácil. Só que sempre queremos ir um pouco mais adiante e este novo trecho nos parecerá mais difícil.
Assim que começamos a praticar uma técnica, nos parece difícil que ela dê algum resultado, mas com a repetição, ela vai mostrando seus efeitos. O problema, é que nossa cultura está viciada com as novidades. Sempre que volto da Índia, a primeira pergunta que me fazem é: -“quais são as novidades”?
Trabalho normalmente com os asanas tradicionais e algumas variações. Uma vez, um aluno me deu um livro com dois mil asanas. Tive a impressão que ele queria dizer: -“professor, o senhor precisa estudar um pouco mais, trabalha sempre com os mesmos asanas”. Achamos que o mais novo deve ser melhor e nem sempre isto é verdade, assim como também não devemos pensar que só a que é tradicional é bom. Por isso o Yoga sobrevive há tantos anos, porque se adapta, não conflita com outros sistemas, apenas contribui.
Cada um deve fazer seu caminho, sem perder a direção. É importante repetir, é importante trilhar o mesmo caminho várias vezes, buscar as diferenças no igual. A série pode ser a mesma todos os dias, mas você não é o mesmo.
Voltando para a nossa trilha, quanto mais caminhamos por ela, mais familiarizados ficamos, mais seguros nos sentimos, mas, se você deixar de percorrer este caminho por um tempo, a mata começará a se fechar e você o terá que reabrir.
Outra dificuldade, é o fato de não sabermos se estamos no começo no meio ou se falta muito, pois não sabemos onde é o final. Temos que ter certeza da direção, mas temos que seguir sem pressa, pois a pressa é um “atrapalhador”, ela impede que você curta o caminho. Não importa o quanto já percorremos afinal: “uma caminhada de mil léguas, começa com o primeiro passo”.