Marcos Rojo
Mais do que andar em baixa, eu acho que este sentimento não tem sido bem compreendido. Tenho a impressão que auto-estima, às vezes, é utilizado no lugar de coragem ou autoconfiança; enquanto baixa auto-estima tem tomado o lugar de auto- compaixão. Mas o pior mesmo é ver auto estima confundido com vaidade.
Há alguns anos atrás, participei do desenvolvimento de um projeto de “qualidade de vida” numa empresa e como parte do programa, lançaram uma camiseta em que estava escrito bem grande em vermelho: “EU ME AMO”. Era para usarmos durante um período. Confesso que não tinha coragem de sair na rua com “aquilo”. Punha uma blusa por cima, ainda que estivesse 40 graus na sombra.
Fico pensando no verdadeiro sentido de gostar de si mesmo. Afinal de contas, como dizem os filósofos: – “Quem somos nós”? Somos o “eu”, somos nossas atitudes, somos o corpo? Somos tudo isso, ou somos algo mais?
Do que tenho lido e estudado na cultura de onde o Yoga é originário, isto de inflar muito o “eu” não é saudável. Aliás, a proposta é diminuir, controlar e futuramente aniquilar com o ego. Asmita (o sentido do eu) é um “atrapalhador” no caminho do praticante. É o segundo Klesha, só perde para a ignorância no ranking dos obstáculos.
Deve haver alguma diferença entre “eu amar o meu eu” e o sentido de “auto-estima”. Seja como for, é preciso ter cuidado. No Yoga, nós nos observamos muito e se isto ficar apenas na superficialidade, corremos o risco de começarmos a “nos achar”. Se somarmos isto aos depoimentos destes seres maravilhosos (no melhor sentido possível), que são os alunos, correremos o risco de nos atolarmos no nosso ego. Um dia vem um aluno e diz: – “professor, aquela minha dor nas costas desapareceu” e eu começo a achar que sou um bom professor. Noutro dia, um outro aluno diz que agora dorme melhor ou que sua ansiedade diminuiu ou sei lá o que mais e eu começo a achar que sou realmente o máximo. Atribuo a mim o que deveria atribuir ao Yoga. Afinal de contas, o aluno vem à academia, paga as aulas, pratica, melhora e vem dizer que o mérito é do professor (não são mesmo, maravilhosos).
Já ouvi de algumas alunas, que quando não estão bem, vão ao cabeleireiro e ao shopping, dão um “banho de loja” e ficam muito bem, melhorando a auto-estima. Que auto-estima é esta que depende da apreciação dos outros? Afinal, se ninguém disser a ela que ficou bonita, o investimento não vai adiantar. Reconhecendo a importância de se cuidar, é preciso não fazer da auto-estima um culto ao corpo, porque mais cedo ou mais tarde, percebemos o peso da idade. Não adianta “botox” ou outros disfarces, temos que envelhecer e morrer para dar lugar às novas gerações.
Será que os antigos yogues estavam muito preocupados com a opinião dos outros com relação à sua aparência? Será que os verdadeiros yogues de hoje estão preocupados com as roupas de grife? Estou falando da grife do yoga. Cuidado para não criar necessidades desnecessárias.
Para mim, a melhor representação de auto-estima é quando comparamos este “estar conosco mesmo”, com o estar na companhia de pessoas que gostamos muito ou na companhia daquelas que não nos deixam à vontade.
Como você se sente quando fica sozinho, quieto com você mesmo (em meditação) num quarto, por dez minutos? Passa rápido ou passa devagar?
Como é quando você encontra um amigo que você gosta muito e tem dez minutos para ficar com ele. Passa rápido ou passa devagar?
Como é quando você encontra aquela pessoa pessimista que só fala de si mesma e só reclama? Ficar dez minutos com ela, passa rápido ou passa devagar?
Não se culpe se você é daqueles que quando se senta para meditar, tem os mesmos pensamentos que temos quando encontramos uma pessoa com a qual não queremos conversar. Ou seja, se você é daqueles que fica falando para si mesmo: -“vou interromper a prática porque tenho que ir ao banco” ou fazer compras ou sei lá o que.
A verdadeira auto-estima exige treino. Uma das maneiras de desenvolver o respeito e carinho por nós mesmos é yoga. Os asanas devem ser praticados numa atitude de auto-observação e auto-cuidado, como quem cuida de uma pessoa amada. Afinal o primeiro passo no caminho do Yoga é a não violência e isto começa conosco mesmo.
A disciplina e a determinação (tapas) também são componentes importantes para o desenvolvimento da auto-estima. Quem gosta mais de si? Aquele que deixa de comer algo porque sabe que não lhe fará bem. Ou aquele que se lamenta, dizendo que já se priva de tantas coisas e por auto-compaixão acaba comendo o que não devia?
A mãe acorda numa madrugada fria e amamenta o seu bebê sem questionamentos porque o ama. Tapas (determinação) é também uma forma de cuidar de si mesmo e não deve ser confundido com auto-flagelação.
Para terminar. Faça da sua prática de yoga um “diálogo” amoroso entre o corpo e a mente. Não transforme este ‘bate papo” agradável numa discussão onde cada lado quer impor sua autoridade.