Marcos Rojo
Benefícios dos asanas e pranayamas
Sabemos que o Yoga é um sistema holístico e entendemos que cada parte afeta o todo e que o todo tem que ser trabalhado para melhorar as partes, mas, ainda assim, corremos o risco de indicar cada exercício ou técnica para patologias específicas, ou seja, alopatizamos o Yoga.
Sem dúvida é importante falar dos benefícios específicos de cada asana ou pranayama; assim já fizeram grandes mestres e mesmo antigos textos de Hatha Yoga, mas, nunca deixaram de ressaltar a importância do sistema como um todo.
Não tenho dúvidas de que muito do que é descrito como benefícios de cada técnica, vem da experiência dos antigos sábios, mas hoje, neste mundo de ciência e tecnologia, estas afirmações precisam de investigações. Por sorte, o mundo ocidental tem se interessado cada vez mais por este tipo de pesquisa.
A forma como antigos textos apresentam suas técnicas e falam de seus benefícios é bastante motivadora. Veja por exemplo o que diz o Gheranda Samhita logo no início com relação ao que é o Hatha Yoga para o corpo humano.
“O corpo é como uma vasilha de barro crua que, se submergida na água, desintegra-se. Por isso, deve ser exposto ao fogo do Yoga para fortalecer-se e purificar-se”.
Em outras palavras, diz o texto que tudo no Yoga é purificação e que temos que nos preparar para as práticas mais adiantadas.
Um pouco antes desta frase diz o mestre Gheranda a seu discípulo:
“Assim como começamos pelo aprendizado do alfabeto para logo aprendermos os tratados, da mesma forma, dominando a técnica do Yoga, obtemos o conhecimento da Realidade”.
Com relação aos efeitos de cada grupo de técnicas o mestre Gheranda diz que: “os kriyas (limpezas) purificam o corpo, os asanas (posturas) o fortifica, os mudras (gestos) lhe da firmeza, o pratyahara (abstração) produz calma. O pranayama (controle dos impulsos respiratórios) leva à leveza, dhyana (meditação) leva à realização do ser e samadhi (meditação profunda) leva ao isolamento que é a verdadeira lebertação (mukti) ”.
O Hatha Pradipika diz no seu primeiro verso que o Hatha Yoga é uma escada para o aspirante que almeja o ponto mais alto do Raja Yoga. E diz que o Hatha é um monastério onde podem refugiar-se aqueles que suportam sofrimentos ilimitados.
Curiosamente diz o texto que os yoguins que desejam êxito no Yoga devem manter a ciência do Hatha estritamente secreta. É eficiente quando oculta. – Não ficar falando para todo mundo dos seus efetios e experiências.
Diz ainda que:
O Yoga torna-se ineficiente por seis motivos: comida excessiva, esforços excessivos, falar muito, austeridade exagerada, excesso de contato com o público e inconstância na mente e que o yoga é realizado com êxito quando se cumprem estes requisitos: entusiasmo, determinação, coragem, compreensão correta, fé no guru e abandono do contato público.
Quanto aos benefícios da prática dos asanas, diz o Hatha Pradipika que:
Sendo o asana o primeiro componente do HathaYoga serão apresentados em primeiro lugar. Os asanas nos proporcionam quietude física e mental, liberam-nos de enfermidades e dão flexibilidade aos nossos membros.
E quanto ao efeito dos Pranayamas, afirma que:
“Enquanto a respiração estiver irregular, a mente estará instável, mas, quando se aquieta a respiração, a mente também o fará e o yoguin viverá longo tempo”.
Veja que os antigos yogues já haviam percebido a relação entre a atividade da mente e a atividade respiratória. Hoje sabemos que a respiração é uma estratégia importante no combate ao stres e síndrome do pânico.
“Há vida enquanto há prana trabalhando no corpo. Se a respiração cessa de trabalhar, significa morte. Assim, a respiração deve ser regulada.”
“Assim como pela prática adequada de pranayamas, todas as doenças poderão ser removidas. Pela prática imprópria de pranayamas, todas as doenças poderão ser adquiridas”.
O que mais deve chamar nossa atenção nesta última frase não é o fato de se poder curar todas as doenças, mas o fato de se adquirir doenças com a prática errada de Pranayama. O quinto capítulo deste texto é dedicado às doenças adquiridas pela prática errada de Yoga, especialmente Pranayamas. A solução para estas doenças não é interromper as práticas, mas, continuar praticando com algumas modificações.
Um dos erros na prática de Pranayama é insistir em manter um ritmo respiratório que não é o nosso, ou seja, sentindo necessidade de inspirar rápido ou sentindo falta de ar continuar a prática a todo custo. Se percebemos que há desconforto, devemos interromper e recomeçar num ritmo mais adequado. A primeira lição que deve aprender um praticante de Yoga, é não sofrer na prática e a segunda, e ainda mais importante que a primeira, é ter prazer na prática.
Sugerem estes textos que façamos oitenta repetições de um Pranayama. Para muita gente parece muito, mas, não nos lembramos que respiramos por volta de trinta mil vezes por dia e que isto não nos incomoda. Então, porque o Pranayama nos deveria incomodar? Se for feito no nosso limite, não só não incomodará, mas, será agradável.
O Gheranda Samhita também não é modesto quando se refere aos efeitos dos Pranayamas diz no primeiro verso do quinto capítulo que:
“Agora apresentarei as regras corretas de pranayama. Somente através de suas práticas, um homem pode se parecer com Deus”.
O que será que quer dizer parecer-se com Deus? Obviamente não é uma referência a aparência física, possivelmente se refere ao estado de identificação com a nossa verdadeira essência.
Não são, portanto, poucos os benefícios da prática do Yoga segundo os textos clássicos. Sua prática deverá satisfazer as perguntas que deveríamos nos fazer constantemente, mas nos esquecemos. De onde viemos? Para onde vamos? O que estamso fazendo aqui?
Boa prática